segunda-feira, 28 de maio de 2012

Amigos


Não sei no futuro como serão as amizades feitas em cima do joelho, conseguidas teclando num qualquer portátil com acesso à Net e que crescem como erva daninha em comunidades com nomes esquisitos…

Eu sou do tempo em que os amigos se faziam na rua, ou seja, fora de casa.

Cimentava-mos as nossas amizades com brincadeiras e jogos que só eram interrompidos pelo chamamento das mães para o almoço, os mais afortunados para o lanche e ao cair do dia para o recolher.

E era na rua que jogava-mos a bola, fazia-mos cabanas com austrálias, trepava-mos às árvores e por vezes caía-mos, rachamos as cabeças, golpeamos os joelhos, os cotovelos e a roupa, jogava-mos à cagalhufa e ao peão, fazia-mos voltas à rua de cima em arco, em que só os mais ágeis com a gancheta conseguiam a vitória, voltas a portugal ao bugalho, cheias de serras e poços para dificultar a chegada à meta, jogávamos a sameira, que se enchiam de casca de laranja para ganhos de estabilidade, as mesmas cascas que tinham servido para o jogo da portinha, tendo como balizas a porta de minha casa e a da vizinha Celeste.

Foi assim que se fortificaram as primeiras amizades. Quanto mais espigadotes mais ia-mos esticando a corda e novos amigos foram surgindo.

Um recado a uma vizinha representava um ou dois testões ganhos pelo favor e uma correria a S. Caetano para comprar Vitórias na Branca. Já tinha o Bacalhau e o Cabrito mas a Cobaia nunca me saiu… Com a boca lambusada de rebuçados sempre ia esperando se aparecia alguém para jogar os repetidos à viradinha.

Mais tarde, aos Domingos a fatiota já era outra, tínhamos que ir à Missa pela manhã e à tarde, nada de bola, pois para grande satisfação de alguns a mãe já dava quatro tostões para um pinguinho no Copacabana com direito a ver o Bonanza, proporcionando o convívio com outra rapaziada que por lá parava.

As longas tardes passadas em jogos de matrecos e bilhar, o associativismo e prática desportiva, as noites de festival, as festas e os bailes sempre muito bem frequentadas, as seções da meia-noite e os pratinhos de feijão no Copa, os primeiros carros e as primeiras discotecas, os gambozinos, o pelotão do capitão França ou os discursos do deputado Rocha, contribuíram de forma decisiva para formar amizades fortes, sólidas, indiferentes a títulos ou diferenças sociais e que passados muitos anos continuam com o mesmos espírito de sempre, com a mesma vontade de se juntarem e partilharem as mesmas coisas de sempre, sem nunca esquecer aqueles que já partiram.

Estas são amizades de rua, solidificadas na rua, por isso esta nossa pequena comunidade à qual tenho o prazer e privilégio de pertencer, tem o nome da rua que deu nome ao lugar que vivemos; Amigos de S. Caetano.

Um bem haja para eles.