Não sei no futuro como serão as
amizades feitas em cima do joelho, conseguidas teclando num qualquer portátil com
acesso à Net e que crescem como erva daninha em comunidades com nomes esquisitos…
Eu sou do tempo em que os amigos
se faziam na rua, ou seja, fora de casa.
Cimentava-mos as nossas amizades
com brincadeiras e jogos que só eram interrompidos pelo chamamento das mães
para o almoço, os mais afortunados para o lanche e ao cair do dia para o
recolher.
E era na rua que jogava-mos a bola,
fazia-mos cabanas com austrálias, trepava-mos às árvores e por vezes caía-mos,
rachamos as cabeças, golpeamos os joelhos, os cotovelos e a roupa, jogava-mos à
cagalhufa e ao peão, fazia-mos voltas à rua de cima em arco, em que só os mais
ágeis com a gancheta conseguiam a vitória, voltas a portugal ao bugalho, cheias
de serras e poços para dificultar a chegada à meta, jogávamos a sameira, que se
enchiam de casca de laranja para ganhos de estabilidade, as mesmas cascas que
tinham servido para o jogo da portinha, tendo como balizas a porta de minha
casa e a da vizinha Celeste.
Foi assim que se fortificaram as
primeiras amizades. Quanto mais espigadotes mais ia-mos esticando a corda e
novos amigos foram surgindo.
Um recado a uma vizinha
representava um ou dois testões ganhos pelo favor e uma correria a S. Caetano
para comprar Vitórias na Branca. Já tinha o Bacalhau e o Cabrito mas a Cobaia
nunca me saiu… Com a boca lambusada de rebuçados sempre ia esperando se
aparecia alguém para jogar os repetidos à viradinha.
Mais tarde, aos Domingos a
fatiota já era outra, tínhamos que ir à Missa pela manhã e à tarde, nada de
bola, pois para grande satisfação de alguns a mãe já dava quatro tostões para
um pinguinho no Copacabana com direito a ver o Bonanza, proporcionando o
convívio com outra rapaziada que por lá parava.
As longas tardes passadas em jogos
de matrecos e bilhar, o associativismo e prática desportiva, as noites de
festival, as festas e os bailes sempre muito bem frequentadas, as seções da
meia-noite e os pratinhos de feijão no Copa, os primeiros carros e as primeiras
discotecas, os gambozinos, o pelotão do capitão França ou os discursos do deputado
Rocha, contribuíram de forma decisiva para formar amizades fortes, sólidas,
indiferentes a títulos ou diferenças sociais e que passados muitos anos
continuam com o mesmos espírito de sempre, com a mesma vontade de se juntarem e
partilharem as mesmas coisas de sempre, sem nunca esquecer aqueles que já partiram.
Estas são amizades de rua, solidificadas na rua, por isso esta nossa pequena comunidade à qual tenho o prazer e privilégio de pertencer, tem o nome da rua
que deu nome ao lugar que vivemos; Amigos de S. Caetano.
Um bem haja para eles.