quarta-feira, 7 de março de 2012

Casas de Castelões


Desde muito novo que o lugar das “Casas” me despertava  grande curiosidade!

Tido para mim como uma zona de vinhas, talvez por ouvir falar nas conversas em família da “Vinha das Casas”, certo é que desde sempre constatei que o local esteva referenciado por construções de casas antigas do período Romano, tendo passando por lá uma importante Via que ligava Chaves a Braga.

Foram algumas as vezes tentei a aproximação na expectativa de confirmar as estórias que ouvira, mas em vão, pois sendo o local longe do centro da aldeia, foi por isso um dos primeiros a deixar de ser cultivado na demanda dos Emigrantes, tendo o mato e as Giestas assaltado as terras, tornando impossível romper e observar.

Entretanto, em pesquisas na Net fui apanhando trabalhos editados pelo IGESPAR e por Catedráticos em Arqueologia, mencionando e confirmando as Estórias que o povo contava…


ARQUEOLOGIA CASAS DE CASTELÕES CHAVES
O local designado de Casas de Castelões desenvolve-se numa encosta de pendor suave onde surgem à superfície do solo alguns vestígios materiais que documentam a existência de uma estação arqueológica do período romano. Os materiais dispersam-se por uma área superior a 1 hm2 sendo sobretudo visível alguns fragmentos de tegulae, imbrices, fragmentos de cerâmica comum, fragmentos de dolia, algumas escórias e fragmentos de tijolo. Nos muros divisórios das propriedades agrícolas pode ser observado muita da pedra aparelhada que pertenceria às antigas construções aqui existentes.

VIAS ROMANAS
Itenerário XVII  Braga (Bracara) a Astorga (Arturica) por Chaves (Aquae Flaviae)
 Via Aquae Flaviae - Aquis Celenis: partiria de Chaves pela Rua da Paz (EM507), a chamada "Estrada Velha de Montalegre", passa em Seara e toma a calçada da Portagem, entre Bustelo e Sanjurge, segue pelo alto da Salgueira, alto das Urzeiras, Lajedo, alto do Queimado, alto da Campina, Sra. do Bom Caminho (povoado no Alto das Coroas), passando a NE do vicus do Outeiro da Torre e da aldeia de Calvão (possível miliário à entrada da aldeia), continua a leste de Castelões (junto do Povoado de Facho de Castelões, onde há notícia de um *miliário junto à via; habitat em Casas de Castelões)… S. Caetano (vicus?), Soutelinho da Raia (habitat em Carvalhal e Pardieiros), Videferre e Sta. Marta de Lucenza (miliário) rumando depois em direcção a Aquis Celenis que seria em Caldas de Reis (Pontevedra).
*miliário: marco a cada mil metros.

PRÉ-HISTÓRIA
São de facto diversos os testemunhos desses tempos. Em Casa de Castelões, topónimo rural revelador de um povoado há muito desaparecido, foi encontrado um altar rupestre, prefigurando os dedos de uma mão. Deve ser daquele período em que a progressiva utilização de materiais permitiu aos povos que habitavam uma exploração da riqueza mineira da região flaviense.

Tudo que lia sobre a Arqueologia em Castelões me deixava mais curioso e foi com o grande incendio do ano passado, que limpou tudo que era monte da Panadeira até Tairíz, deixando a salvo o Povo e o Parque da Senhora, que surgiu a oportunidade da tão aguardada visita às “Casas”.
Com a 4L a aproximar-se o mais possível, rompendo caminhos de terra e seixos, com as máquinas fotográficas prontas, umas botas resistentes e protegido até à cabeça com roupa própria para “farruscar”, chego ao local à muito desejado, A Estação Arqueológica das Casas de Castelões, ou Castelãos!…
Toda a pequena encosta é feita de socalcos, saltando à vista a sensação que ali houve muita mão do homem na criação de boas condições para a construção daquele pequeno aldeamento.

Logo na primeira aproximação, facilmente se verifica que as pedras usadas para erguer as paredes divisórias das propriedades são mais que simples calhaus, nota-se algo diferente.
Com uma apreciação mais cuidada reparo que a diferença está nas formas geométricas das mesmas.
Há muitas pedras redondas de faces polidas, lisas ou concavas e que aparentam tratar-se de mós.
Há pedras cilíndricas em forma de pilar, ou meio-pilar esculpido em pedra tosca.
Há pedras de formas quadradas, retangulares e muito mais... 






Para meu espanto, vi até pedras trabalhadas para aplicação na base ou no cimo de colunas… (opus signinum)

Cada metro que se calca encontra-se um caco de barro. Uns parecem saídos de um qualquer utensilio doméstico, já outros parecem ser tijolo de piso ou cobertura. A forma e variedade é muita...




Nada entendo de Arqueologia que ma habilite a opinar sobre cada uma das muitas coisas que por lá vi, mas aqueles amontoados de pedra pequena em pequenos círculos, podem muito bem ser as ruínas das antigas casas.


Também vi uma estranha figura gravada no cimo de uma fraga pensando tratar-se de Arte-Rupestre, mas pela distância entre períodos, pela sua localização e exposição e a forma pouco clara do desenho, admito tratar-se de algo sem nexo, esculpido pela crista do sacho do velho “Grilo” que ali tinha erguido a sua cabana de abrigo paredes-meias com o mesmo penedo.

Muitos são também os pequenos montinhos de pedra que me parecem sair de pesquisas e seleções há muito realizadas, como que deixando ficar o joio depois de apartado e carregado o trigo…
Já o sol tinha baixado naquela tarde solarenga e fria de sábado quando regressei.

Para traz deixei as memórias de uma realidade absoluta, que são os vestígios da presença dos Povos Invasores que passaram e ficaram por Castelões, como se pode provar nas “Casas”, no “Facho” no “Outeiro dos Mouros, nas Lamarelhas, etc, etc… 
Espero ter tempo e aproveitar a oportunidade para fazer incursões pelas outras estações arqueológicas existentes na aldeia.